segunda-feira, 20 de novembro de 2017

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E A MULHER NEGRA NO BRASIL


O Dia da Consciência Negra é celebrado no Brasil em 20 de novembro, data escolhida em homenagem a Zumbi dos Palmares, homem negro que lutou contra a escravidão e acredita-se ter morrido neste dia, em 1695. A data pretende inspirar a reflexão sobre o assunto e motivar mudanças em prol de uma sociedade livre do racismo.

As lutas raciais e étnicas historicamente unem homens e mulheres de maneira mais intensa do que se pode observar em outros movimentos sociais, devido à natureza violenta das opressões sofridas por estes grupos. No entanto, na nossa sociedade ocidental atual, aonde as relações capitalistas se unem ao patriarcado a fim de explorar, objetificar e desunir a classe trabalhadora, os negros são preteridos e marginalizados de diversas formas e recai, de forma mais intensa, à mulher negra a carga combinada de racismo e misoginia institucionalizados na sociedade.

O Mapa da Violência de 2015 mostra que o número de assassinatos de mulheres negras aumentou 54,2% em 10 anos (2003 a 2013) e também que, em 2013, morreram 66,7% mais meninas e mulheres negras do que brancas no Brasil. 27% das mortes de mulheres ocorreram no próprio domicílio, enquanto este índice para os homens é de apenas 10%. Além disso, as mulheres que procuram atendimento por sofrerem algum tipo de violência são agredidas na metade dos casos por seus próprios parceiros ou ex parceiros, o que revela a grande incidência de violência doméstica contra as mulheres, principalmente negras, que são as vítimas prioritárias. 

Dados do Dossiê das Mulheres Negras, publicado pelo Ipea em 2013, demonstram que a renda per capita das famílias chefiadas por mulheres negras está abaixo das chefiadas por mulheres brancas, que estão abaixo das chefiadas por homens negros ou brancos. No funcionalismo público e militar a posição da mulher negra é a mesma. Além disso, nas regiões metropolitanas, 46% das mulheres negras em idade adulta vivem do trabalho informal. No que se refere à escolarização, 20% dos estudantes do Ensino Superior são mulheres negras enquanto as mulheres brancas são 36%. Vale ressaltar que a população de mulheres negras no Brasil ultrapassa um quarto e que os índices brasileiros de escolaridade apresentaram crescimento na última década devido aos programas de inclusão social do Governo Federal, como Prouni, cotas raciais, Bolsa Família e Programa Brasil sem Miséria.

                                  


Embora essas medidas tenham sido tomadas a fim de diminuir a desigualdade social no Brasil, outras questões explicitam a negligência do Estado e da sociedade para com a mulher negra. A cada 2 dias morre no Brasil uma mulher vítima do aborto clandestino. A grande maioria dessas mulheres possui baixa renda e escolaridade e, de acordo com o perfil socioeconômico dos brasileiros, são negras. Outrossim, essas mulheres não têm acesso amplo aos seus direitos fundamentais, pois possuem atendimento médico e escolar de baixa qualidade e são excluídas dos espaços sociais pela falta de estrutura e cultura para o acolhimento de crianças, revelando a característica capitalista de um Estado que exige a mão de obra integral dessas mulheres, sem prover condições mínimas para que isso ocorra de maneira humanizada.

No Brasil, como em diversas outras regiões do mundo que foram invadidas e exploradas pelos europeus, pode-se observar a interseccionalidade entre raça e classe. A população mais pobre, que no caso é também negra, não tem acesso real aos seus direitos constitucionais, embora essa falha no preceito constitucional de igualdade seja mascarada pela naturalização das opressões de raça, classe e gênero, e pela crença na meritocracia, tornando os comportamentos discriminatórios tão subjetivos e tênues a um nível em que é difícil percebê-los ou enxergá-los como prejudiciais. Isso é o que torna possível a perpetuação destas opressões em todas as camadas da sociedade de maneira ideológica.

Sendo assim, a conscientização sobre o processo histórico brasileiro que trouxe pessoas do continente africano para o Brasil como escravos, sobre a supressão da sua cultura e imposição da cultura europeia, sobre as lutas desse povo para se libertar dos seus opressores e sobre as consequências dos séculos de segregação na sociedade atual são imprescindíveis para o entendimento da necessidade da valorização da cultura negra no Brasil e das medidas de reparação histórica, com o intuito de proporcionar justiça social real a todos os cidadãos brasileiros.

Junto a isso, a estrutura patriarcal capitalista invisibiliza as mulheres, restringindo sua influência e importância social aos limites domésticos, ao poder de consumo e à força de trabalho. Essa lógica somada ao racismo coloca a mulher negra em uma posição completamente desfavorável em nossa sociedade, sendo preterida nas relações de trabalho, de mercado, nos serviços públicos a até mesmo nas relações conjugais, como mostra o último Censo de 2010. É por tudo isso que o feminismo negro é extremamente necessário, juntamente com o mulherismo africano. Uma sociedade igualitária, em que homens e mulheres, brancos e negros tenham a mesma relevância apenas será possível se considerarmos as particularidades históricas visíveis através da materialidade e expressas, neste caso, através de desigualdades que devem ser combatidas tanto na esfera social quanto individual. 



Fontes:







quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Estatuto do Nascituro e a Questão do Aborto

O Estatuto do Nascituro (PL 478) é um projeto de lei de 2007, de autoria de deputados da bancada religiosa, que propõe a extensão da criminalização do aborto, bem como outras pautas extremamente conservadoras do ponto de vista social e também científico. Outras propostas também tramitam no Congresso com sugestões parecidas, como a PL 5069 de 2013 e a PEC 164 de 2012, do ex deputado Eduardo Cunha, que prevêem a ampliação da tipificação do aborto e a alteração constitucional que garantiria a “inviolabilidade da vida desde a concepção”. O senador Magno Malta recentemente propôs a PEC 29 de 2015 que é idêntica a de Eduardo Cunha.


Além destas, a PEC 181/2015, de Aécio Neves, se popularizou na Câmara por sugerir o aumento da licença maternidade nos casos de mães que dêem à luz bebês prematuros. Entretanto, a proposta foi alterada para a inclusão de um item que define que a vida começa na concepção. Esta alteração estratégica visa claramente barrar os avanços dos movimentos de mulheres que lutam pela descriminalização do aborto. A deputada Erika Kokay foi uma das questionadoras da legitimidade desta manobra, que fez com que a PEC ficasse conhecida como a PEC Cavalo de Troia.


Essas propostas legislativas são um reflexo da onda conservadora que se faz presente no mundo todo, mas, caracteristicamente no Brasil, vem acompanhada do crescimento das igrejas evangélicas (61,45% de 2000 a 2010 - IBGE), que possuem caráter altamente conservador e misógino, pregando a submissão da mulher ao homem, ao passo que retira da mesma qualquer forma de autonomia, independência ou agência nas mudanças sociais. Esses grupos fundamentalistas, apoiados até mesmo por alguns liberais, assumem que atos sexuais são ações conscientes e que as gravidezes geradas pelos mesmos são, em qualquer circunstância, irrevogáveis. De acordo com esse conceito, a realidade material na qual a mulher está inserida não tem peso, seja no aspecto psicológico, médico, emocional ou econômico.


Todos esses projetos de lei possuem uma particularidade que envolve a atribuição de pessoalidade ao feto e a sacralização da vida. Embora esses conceitos sejam bastante sedutores e se confundam com princípios dos direitos humanos, eles na verdade perpetuam a dinâmica patriarcal, se considerarmos que a sociedade em que vivemos ainda não superou as desigualdades de gênero, especialmente em relação à violência sexual e doméstica e a responsabilidade paterna, assim como não possui através do Estado medidas assistenciais suficientes para a mulher e para a criança. Desse modo, a mulher sob essa nova lei seria uma espécie de incubadora, sem autonomia sobre a própria vida, completamente coisificada.


O Estatuto do Nascituro, além de criminalizar o aborto até mesmo nos casos permitidos por lei desde 1940, como estupro ou risco de morte da mulher, também o torna crime hediondo e prevê que a apologia ao mesmo e incitar ou facilitar que uma mulher realize um aborto se tornem crimes. A proposta ainda restringe tratamentos de fertilidade e pesquisas científicas que utilizam embriões gerados in vitro, como pesquisas com células tronco, clonagem ou qualquer outro método, mesmo que eticamente aceito, já que a vida do embrião seria salvaguardada desde a concepção, ainda que artificial.



                                    



Outro ponto polêmico do estatuto é o artigo 13, que disserta sobre os casos de estupro. O artigo propõe que seja responsabilidade do genitor, leia-se estuprador, arcar com a pensão alimentícia até a criança completar 18 anos. Caso o estuprador não seja identificado, essa responsabilidade passaria a ser do Estado. Esse artigo específico deixa claro o caráter misógino desta proposta, quando sugere com naturalidade que a mulher que esteja grávida em decorrência de um estupro seja exposta à uma segunda violência, que é o convívio com seu agressor, sem poder optar por interromper a gravidez que não ocorreu de um ato sexual consentido, e sim de uma violência das mais tiranas que o ser humano é capaz de cometer.


Além disso, levando em consideração que o estuprador identificado permanecerá no cárcere por alguns anos devido ao crime cometido ou que ele não seja identificado, recairia exclusivamente sobre a mulher o cuidado integral com a criança. Ou seja, a responsabilidade criminal é retirada do homem e transmitida à mulher, que pode escolher entre parir a criança enquanto o genitor (estuprador) permanece isento de responsabilidade paterna ou cometer um aborto clandestino correndo risco de saúde e prisão. Através desse artigo é possível perceber mais claramente como essa proposta ataca os direitos fundamentais de autonomia e liberdade do indivíduo.


Qualquer medida que altere a ordem social, como a mudança ou criação de uma lei, deve trazer um benefício maior do que as perdas que ela promove ou do que o benefício anterior. Nesse sentido o Estatuto do Nascituro falha, pois ele na verdade não amplia os direitos do nascituro, os quais já estão previstos no artigo 2º do Código Civil de 2002, no artigo 7º da lei 8560/1992, nos artigos 877 e 878 do Código de Processo Civil e nos artigos 7º e 8º do Estatuto da Criança e do Adolescente.


Ao contrário, essa proposta desconsidera que a cada 2 dias uma mulher morre devido a complicações decorrentes de aborto clandestino no Brasil e que essas mulheres, em sua maioria, possuem baixa renda e escolaridade, normalmente sendo privadas do acesso aos seus direitos básicos garantidos pela constituição. Vale ressaltar que nenhum dos projetos citados foram originalmente propostos por mulheres, o que deixa claro mais uma vez o teor patriarcal dessas medidas, que visam manter a mulher sob controle, como cidadã de segunda classe, escrava do Estado, sem autonomia sobre a própria vida e sujeita, a qualquer tempo, a uma gravidez compulsória.


Numa sociedade racista e de classes segregadas como a nossa, as mulheres ricas possuem condições econômicas e podem procurar atendimento médico especializado e privado para realizar um aborto, sem sofrer as sanções previstas em lei por isso, enquanto as mulheres pobres e negras padecem, seja nas clínicas clandestinas, na precariedade do atendimento médico público, na penalização desproporcional ou na solidão da maternidade. Uma proposta como essa não somente não acabaria com os abortos que já acontecem, como também potencializaria os abortos clandestinos, o preconceito contra as mulheres e o poder punitivista do Estado. A criminalização proposta não tem a intenção de neutralizar, ela tem a intenção de atingir, e ela escolhe uma classe, um gênero e uma cor. 


Fontes:

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Sexo contra sexo ou classe contra classe?!

Sexo contra sexo ou classe contra classe? Uma análise marxista sobre o feminismo atual

 “O chauvinismo masculino desperta grande indignação entre as mulheres e fomenta um profundo antagonismo entre os dois sexos. Existem duas maneiras distintas de tratar este aspecto da libertação da mulher.
Uma é a marxista. Sabemos que as mulheres estão subjugadas e humilhadas em uma sociedade dominada pelo homem, e também que estão plenamente capacitadas para se organizarem ativamente contra estes males. Ao mesmo tempo, o marxismo nos ensina que a subordinação de um sexo é parte e consequência de uma pressão mais ampla e da exploração da massa trabalhadora por parte dos capitalistas, detentores do poder e da propriedade. Portanto, a luta pela liberação das mulheres é inseparável da luta pelo socialismo.
E outro ponto de vista sustenta que todas as mulheres, como sexo, estão no mesmo barco e têm objetivos e interesses idênticos independentemente de sua posição econômica e da classe a que pertençam. Portanto, para obter a emancipação, todas as mulheres deveriam se unir e levar a cabo uma guerra baseada na diferença de sexo contra os machos chauvinistas, seus inimigos acérrimos. Esta conclusão, unilateral e distorcida, pode causar um grande dano à causa da libertação da mulher.”

        Evelyn Reed, feminista, militante e antropóloga, escreve em “Sexo contra sexo ou classe contra classe” sobre a análise marxista da luta feminista, mostrando as diferenças da luta pelo viés classista, para a luta identitarista. O que Reed quer dizer, não é negar a opressão de gênero que acomete a todas as mulheres, inclusive as de classes mais altas, mas que a verdadeira libertação da mulher não se dá com uma luta dos sexos, mas junto da luta de classes, que as questões acerca da opressão de gênero, não se separam das questões de classe. Que uma mulher proletária não tem como ignorar a opressão que sofre pelo peso da sua classe, para se unir a mulher burguesa e esmagar aos homens da sua classe que são igualmente explorados, muitos deles são seus cônjuges, filhos, pais. A luta, pelo viés marxista, é estrutural, entende-se que há mais do que homens matando mulheres, simplesmente por serem homens e mulheres, há um sistema social vigente que corrobora para a exploração dupla da mulher, cis ou trans, que se vê explorada por seu patrão ou patroa, mas também sofre violência de gênero. Não é negar que homens violentam, abusam, assediam, agridem e matam mulheres, mas que por saber que não é possível a eliminação de todos os homens no Planeta Terra, mas sim, é possível, eliminar da nossa sociedade, o machismo, o patriarcado, a misoginia e o feminicídio. Com a construção de uma nova sociedade, onde homens e mulheres andem em igualdade e equidade.
É questão de analisar historicamente, que desde a Revolução Francesa, alguns movimentos feministas eram escravagistas, muitas dessas mulheres não queriam igualdade de gênero para todas, mas só para as brancas e ricas, mulheres negras, servas, escravas ficavam de fora das suas pautas, semelhantemente, hoje, vemos uma luta por esse segmento, uma falsa ideia de sororidade, passando a noção de pacifidade, para que a proletária continue servindo a rica, eternamente, sem questionar, pois são do mesmo gênero, e por aí, a luta não se desenvolve, pois ela está intrinsecamente ligada às questões de classe.
“Portanto, classe contra classe deve ser a linha mestra da luta pela libertação da humanidade em geral, e da mulher em particular. Somente uma vitória revolucionária sobre o capitalismo, dirigida pelos homens e mulheres trabalhadoras e apoiadas por todos os oprimidos, pode resgatar as mulheres de seu estado de opressão e garantir-lhes uma vida melhor numa nova sociedade. Esta afirmação teórico-política marxista foi confirmada pela experiência de todas as revoluções vitoriosas, como as da Rússia, China, Cuba.
Quaisquer que sejam seus limites, as melhorias que estas revoluções garantiram na condição da mulher foram realizadas não através de uma luta entre sexos, mas através da luta de classes.
Não importa quão radical possa parecer; a substituição da luta de classes pela luta entre sexos, por parte das mulheres ativistas, seria um perigoso desvio do verdadeiro caminho da liberação. Esta tática somente poderia servir ao jogo dos piores inimigos das mulheres e da revolução social.”

Essa obra da Evelyn Reed é uma leitura obrigatória para toda mulher marxista.
Link para baixar em pdf  clique aqui ou no site marxist.org


terça-feira, 25 de julho de 2017

Tarika Matilaba, primeira mulher a entrar no Partido dos Panteras Negras

    


 Joan Tarika Lewis, conhecida então como Tarika Matilaba, foi a primeira mulher a entrar no BPP e exigiu ter espaço para as mulheres negras na plataforma. Nascida e criada em Oakland, sua educação estava cheia de injustiças, seja o declínio pós-Segunda Guerra Mundial, taxas de desemprego extremamente altas, falta de habitação, preços acessíveis e outras questões socioeconômicas que impactaram principalmente os negros e os empobrecidos. A história diz que ela entrou no escritório dos Panteras Negras em Oakland e exigiu que ela não fosse apenas membro do partido, mas também que a ela fosse dada uma arma nesse exato momento. 
Enquanto estava no ensino médio no Oakland Tech, ela foi uma das primeiras estudantes a solicitar um clube de história sobre a cultura negra (ela também foi a co-fundadora da uinião dos estudantes negros) e passou a exibir um afro, fazendo sua eventual admissão no BPP em 1967 com 16 anos. Ela como uma Pantera Negra assumiu muitos papéis, incluindo escrever editoriais juntamente com Emory Douglas e desenhou mais de 40 caricaturas políticas, muitas das quais fizeram o emblemático jornal Black Panther. Os dois conseguiram retratar os pobres não só como vítimas, mas com empatia e a humanidade necessária. Ela deixou o partido na década de 70 quando os infiltrados no FBI começaram a criar rivalidades e conflitos entre seus membros. Atualmente ela continua a sua militância como ativista através da música, artes visuais e palestras sobre sua vida e militância durante a atuação no partido panteras negras.

“I put down my violin and picked up a gun.”

Fontes:

Livro: My People Are Rising: Memoir of a Black Panther Party Captain 

https://localwiki.org/oakland/Tarika_Lewis (quatro vídeos sobre a palestra e músicas de Tarika - sem legenda)
Texto de Leandro Augusto 

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Assata Shakur



Texto de Leandro Augusto 
Shakur nasceu como Joanne Deborah Chesimard, na Jamaica, Queens em 16 de julho de 1947. Ela mudou seu nome para Assata Shakur em 1971. "O nome Joanne começou a irritar meus nervos", ela escreve em sua autobiografia. "Eu tinha mudado muito e me mudei para uma “batida” diferente. Eu não me sentia como nenhuma Joanne, ou nenhum negro, ou americana. Eu me sentia como uma mulher africana. Minha mente, coração e alma voltaram para a África, mas meu nome ainda estava encalhado em algum lugar da Europa".
Ela se juntou às Black Panthers no final da década de 1960, ainda com 20 anos, mas acabou se desiludindo com a direção da organização e partiu (segundo uma carta, ela defendia uma direção mais “underground” do movimento porque era certo segundo ela que a violência policial somente iria escalar de forma aberta com o tipo de política dos panteras. E parece que ela estava parcialmente certa). Ela tornou-se membro do Exército de Libertação Negra (BLA), outra organização negra militante que acreditava em resistência aberta.
Em 2 de maio de 1973, Shakur e dois membros da BLA foram atropelados por tropas estatais em Nova Jersey. O soldado estadual Werner Foerster e um membro do BLA foram mortos. Enquanto a polícia sustenta que Shakur é responsável na morte de Foerster, ela negou consistentemente a acusação. Em 1977, Shakur foi condenada por uma acusação de homicídio e seis acusações de agressão e condenadas à prisão perpétua. Mas há muitas evidências para sugerir que o julgamento não foi justo; Seu advogado chamou o julgamento de "um linchamento legal e um tribunal canguru".
Durante o seu tempo na prisão, Shakur experimentou o pior que a instituição poderia oferecer. Desde assédio passando por humilhações e agressões.Uma contínua violência de gênero e racial que a instituição cometia a ela a suas companheiras.
"Você quer dizer que eles realmente colocaram as mãos dentro você, para inspecioná-la? "Eu perguntei.
"Uh-huh", elas responderam. Toda mulher que já esteve na rocha, ou na antiga casa de Detenção, pode falar sobre isso. As mulheres chamam isso de "getting finger-
fucked." vulgarmente “finger-fucked”.
"O que acontece se você se recusar?" Eu perguntei a Afeni. "Eles te trancam no buraco e eles não te deixam sair até você concordar em ser inspecionada internamente ". Alguns deles tentam colocar um dedo em sua vagina e outro em seu reto ao mesmo tempo.” - Assata Shakur: uma autobiografia, pág 87
Ela escapou em 1979 com a ajuda de membros BLA posando como visitantes para a prisão.
Em maio de 2013, no 40º aniversário de sua prisão, ela se tornou a primeira mulher (inocente e provavelmente a mais procurada no mundo) a ser nomeada na lista de terroristas mais procurados pelo FBI. Há uma recompensa federal e estadual de US $ 2 milhões por sua prisão. Recentemente, Trump tem tentado negociar com Raul Castro a extradição de todos os “teroristas” refugiados (que não são poucos) em Cuba. Até agora as negociações falharam.
Assata Shakur é uma mulher guerreira que trabalhou e sacrificou incansavelmente na luta. Ela pertence ao legado de abolicionistas afro americanos como Harriet Tubman, que trabalhou para libertar centenas de escravos e Ida B. Wells, que lutou pelos direitos dos negros e pelos direitos das mulheres.
Ao longo da história das lutas do povo afro-americano, as heroínas demonstraram que o único caminho para uma vida melhor era organizar e lutar de forma disciplinada. Shakur atuou com grande dignidade e coragem ao enfrentar o governo federal e a repressão estatal ao longo de suas provações. Ela provavelmente não estaria viva e em Cuba se não fosse pelas comunidades bem organizadas que respeitavam seu trabalho.
Do discurso de Assata Shakur em abril de 1978:
"As mulheres negras nunca podem ser livres em um país que não é gratuito. Nunca podemos ser libertadas em um país onde as instituições que controlam nossas vidas são opressivas. Nunca podemos ser livres enquanto o nosso povo está oprimido ou enquanto o governo americano e o capitalismo americano permanecem intactos ".
*BLA – Black Liberation Army: um movimento socialista que ficou ativo de 1970-1971 formado por Assata Shakur e Eldridge Cleaver. Constituído de muitos membros dos panteras negras que estavam sendo perseguidos pelo FBI e não conseguiram fazer gente a forte propaganda anticomunista que o primeiro impôs sobre o moviemtno. Considerado como um grupo terrorista pelo governo dos USA, ele lutou aberta e violentamente contra movimentos supremacistas no sul dos Estados Unidos. De acordo com o departamento de justiça, se confere ao movimento mais de 70 incidentes violentos e pelo menos 13 policiais mortos.


domingo, 25 de junho de 2017

Cosmético e moda no comércio da beleza - por Evelyn Reed




Créditos na imagem 

A pauta contra a imposição dos padrões de beleza e a indústria capitalista da moda que tortura 99% das mulheres sempre é mencionada nos debates feministas, apesar da indústria ter encontrado nicho na "Representatividade", a sociedade não mudou, a protagonista da novela continua sendo a mocinha branca, magra, alta e de cabelão liso. Evelyn Reed, no seu livro Sexo contra sexo ou classe contra classe, faz uma análise pertinente e histórica sobre essa indústria. 
Confira:

Cosmético e moda no comércio da beleza

As distinções de classe entre as mulheres transcendem sua identidade como sexo. Isto é certo principalmente na sociedade capitalista moderna, em que a polarização das forças sociais é mais forte.
Historicamente, a luta entre os sexos fez parte do movimento feminista burguês do século passado. Tratava-se de um movimento reformista, levado a cabo dentro do sistema, e não contra o mesmo. Foi, sem dúvida, uma luta progressiva, uma vez que as mulheres se rebelaram contra o domínio quase total do homem. Com o movimento feminista, as mulheres obtiveram um número considerável de reformas. Mas aquele tipo de movimento feminista já fez seu trabalho, alcançou seus objetivos limitados, e os problemas que se nos apresentam devem ser situados no contexto da luta de classes.
A “questão feminina” pode ser resolvida somente com a aliança dos homens e das mulheres trabalhadoras, contra os homens e as mulheres que detém o poder. Isto significa que os interesses comuns dos trabalhadores, como classe, são superiores aos das mulheres como sexo.
As mulheres que pertencem à classe dominante têm exatamente o mesmo interesse na conservação da sociedade capitalista que os seus maridos. As feministas burguesas lutaram, entre outras coisas, pelo direito das mulheres terem propriedades registradas em seu nome, e obtiveram este direito. Hoje, as mulheres plutocratas possuem fabulosas riquezas registradas em seu nome. Sobre temas políticos e sociais fundamentais, não simpatizaram nem se uniram com as mulheres trabalhadoras, cujas necessidades podem ser satisfeitas somente com a desaparição deste sistema. Por isto, a emancipação das mulheres trabalhadoras não será obtida através de uma aliança com as mulheres da classe inimiga, mas sim ao contrário, com uma luta contra elas, como parte de uma luta total contra o capitalismo.
A intenção de identificar os interesses das mulheres como sexo toma uma de suas formas mais insidiosas no campo da beleza feminina.
Surgiu o mito de que, já que todas as mulheres querem ser belas, tem todas o mesmo interesse pelos cosméticos, pela moda, considerados hoje indispensáveis para a beleza. Para sustentar esse mito, diz-se que o desejo de beleza se deu em todas as épocas da história, e com todas as mulheres. Os traficantes do campo da moda levantavam como testemunho disso o fato de que, inclusive na sociedade primitiva, as mulheres pintavam e decoravam seu corpo. Para destruir esta crença, vejamos rapidamente a história dos cosméticos da moda.
Na sociedade primitiva, em que não existia a disputa sexual, não eram necessários os cosméticos e a moda como subsídios artificiais da beleza. Os corpos e os rostos, tanto dos homens, como das mulheres, eram pintados e “decorados”, mas não por razões estéticas. Estes costumes nasceram de distintas necessidades relacionadas com a vida primitiva e com o trabalho.
Naquela época, qualquer indivíduo que pertencesse a um grupo familiar, necessitava estar “marcado” como tal, segundo o sexo e a idade. Estas “marcas” compreendiam não só ornamentos, anéis, braceletes, saias curtas etc., mas também gravações, tatuagens, e outros tipos de decoração no corpo, que indicavam não só o sexo do indivíduo, mas também a idade e o trabalho dos membros da comunidade, à medida que passavam da infância à idade madura e à velhice. Mais que decorações, estes sinais podem ser considerados como uma forma primitiva de evidenciar a história da vida de cada indivíduo, como atualmente nós fazemos com os álbuns de família. Uma vez que a sociedade primitiva era comunitária, estes sinais marcavam também uma completa igualdade social.
Depois veio a sociedade de classes. As marcas, símbolos de igualdade social, também foram transformadas em seu oposto. Converteram-se em modelos e decorações, símbolos de desigualdade social, expressão da divisão da sociedade entre ricos e pobres, entre governantes e governados. Os cosméticos e a moda passaram a ser prerrogativas da aristocracia.
Um exemplo concreto pode ser encontrado na Corte francesa, antes da revolução. Entre os reis, os príncipes e a aristocracia latifundiária, tanto os homens como as mulheres vestiam-se segundo o ditado pela moda. Eram “dândis” com as caras pintadas, os cabelos empoados, cintos coloridos, ornamentos de ouro e tudo o mais. Os dois sexos eram “belos” segundo os modelos em voga. Mas ambos os sexos da classe dominante se distinguiam, particularmente por seus cosméticos e suas roupas, dos camponeses pobres, que suavam por eles na terra e que, certamente, não eram belos, segundo os mesmos modelos. A moda naquele período foi símbolo de distinção de classe.
Mais tarde, quando os costumes burgueses substituíram os feudais por diversas razões históricas, os homens deixaram o campo da moda principalmente para as mulheres. Os homens de negócios afirmavam sua posição social com a exibição de esposas enfeitadas, e abandonaram as calças douradas e as faixas coloridas. Entre as mulheres, sem dúvida, a moda ainda distinguia a Judy O'Grady(1) da mulher de um coronel.
Com o desenvolvimento do capitalismo, produziu-se uma enorme expansão da produção, e com ela a necessidade de um mercado de massas. Já que as mulheres constituíam a metade da população, os capitalistas começaram a explorar o campo da beleza feminina. Assim, o capítulo da moda saiu do estreito marco dos ricos e se impôs a toda a população feminina.
Para corresponder às exigências deste setor industrial, as distinções de classe foram suavizadas e escondidas sob a identidade do sexo. Os agentes de publicidade difundiram a propaganda: todas as mulheres querem ser belas, portanto todas as mulheres têm interesse por cosméticos e moda. A moda se identificou com a beleza, venderam estes acessíveis produtos de beleza na base de sua “necessidade” e “desejo” comum a todas as mulheres.
Atualmente, o campo da beleza alimenta milhares de indústrias: cosméticos, vestidos, perucas, produtos para emagrecer, jóias verdadeiras e falsas etc. Viu-se que a beleza era uma fórmula muito flexível. Tudo o que um empresário deveria fazer para ficar rico era descobrir um novo produto e convencer as mulheres de que “tinham necessidade” dele e que o “desejavam” (ver qualquer das campanhas de publicidade da Revlon).
Para manter e aumentar esta pechincha, faltava propagandear outros mitos, em apoio aos capitalistas. São eles:
1.                Há séculos que as mulheres competem umas com as outras para atrair sexualmente os homens. Isto é, virtualmente, uma lei biológica, da qual nada escapa, e uma vez que sempre existiu e sempre existirá, as mulheres se submetem ao seu destino, e estão em permanente competição umas com as outras, no mercado capitalista do sexo.
2.                Na sociedade moderna, a beleza natural das mulheres, na realidade não conta. Inclusive, insinua-se que a natureza abandonou as mulheres no que diz respeito à sua beleza. Para recuperar a sua falta de atrativos e suas deformações, devem recorrer a ajudas artificiais que os gentis industriais colocam à sua disposição. Examinemos esta propaganda.
(1)          Referência a um poema de Rudyard Kipling


link para o livro completo https://www.dropbox.com/s/55tm7xc6ew54tia/Sexo-Contra-Sexo-ou-Classe-Contra-Classe%20%281%29.pdf?dl=0




segunda-feira, 19 de junho de 2017

MISOGINIA, ABUSO, VIOLÊNCIA EXTREMA CONTRA MULHERES POR DENTRO DA INDÚSTRIA PORNOGRÁFICA

Linda Susan Boreman, foi explorada pelo próprio companheiro e sujeitada a todo tipo de humilhação na indústria pornográfica

Escrito por Fernanda Aguiar  
(ATENÇÃO:PODE CONTER INFORMAÇÕES QUE ATIVEM GATILHOS)

Alguns dos atos sexuais que são esperados das atrizes na pornografia mainstream contemporânea
Gagging - Conhecido como garganta profunda, foder a garganta e abuso facial. Penetração forte e violenta da garganta de uma mulher que induz ânsia de vômito e vômito. 
Choking - O estrangulamento de uma mulher, às vezes até o ponto de inconsciência. 
Anal - a pornografia apresenta penetração anal com um pênis, um vibrador, outros objetos ou alguma combinação deles. 
A dupla penetração - (aka DP) mostra a penetração anal e vaginal simultânea de uma mulher. Double Stuffed (aka DS), Double Vaginal (aka DV), ou Double Anal (aka DAP), a pornografia envolve a penetração de um orifício por dois pênis ou outros objetos. 
Facial - pornografia envolvendo ejaculação masculina no rosto de uma mulher. 
Cum-shot - a pornografia apresenta uma coleção de cenas de ejaculação masculina. 
Gang bang - descreve numerosos homens que fazem sexo com uma mulher. Caso contrário, conhecido como estupro coletivo. 
A pornografia de ATM - (ass to mouth) mostra a transferência do pênis do ator (ou outro objeto) do ânus de uma atriz para a boca da mesma e (ou de outra atriz) de uma vez só.
Gaping - (aka botão de rosa) refere-se a cenas de sexo anal com foco no anus permanecendo aberto por um período de tempo após o pênis ereto ou o vibrador ser removido. Um subconjunto de gaping é a "tunnel cumshot", em que o homem ejacula diretamente no ânus escancarado.
Rimming - pornografia centrada em torno de sexo lamber o ânus.
Fisting - a pornografia apresenta a inserção de uma mão inteira na vagina ou no ânus da atriz. Um subconjunto de tentativas para gravar o colo do útero imediatamente após o punho (ou grande dildo ou espéculo) ser removido da vagina agora aberta.
Inserção - apresenta atores/atrizes inserindo vários objetos estranhos em seu ânus ou vaginas
Amador - pornografia profissionalmente criada que possui atores / atrizes amadores, aparecendo pela primeira vez em um filme pornográfico.
BDSM - escravidão e disciplina, dominação e submissão, sadismo e masoquismo. Pode incluir atos torturantes, como bater, chicotear que deixam marcas visuais.Simulação de afogamentos e eletrocussão.
Rough sex - semelhante à pornografia com sadomasoquismo e tipicamente apresenta um superior que humilha e / ou degrada uma pessoa inferior enquanto é fisicamente violento contra eles. Normalmente o que se apresenta: bater, engasgar, xingar e puxar o cabelo. Muitas dessas atividades podem ser baseadas no estupro.
Outros tipos de atos sexuais encontrados na internet A pornografia menstrual - ou " rapsodia vermelha" apresenta atividades sexuais envolvendo mulheres que estão menstruando, com foco no sangue menstrual.
Scat - ou pornografia "marrom" apresenta defecação, Manipulação de fezes, ou consumo de fezes, na realidade ou fantasia.
Milking - pornografia apresenta mulheres lactantes sendo ordenhadas ou ordenha a si (não deve ser confundido com enemas de leite).
Esportes aquáticos: a pornografia apresenta atividades sexuais envolvendo urina, muitas vezes o ator urina na boca da mulher.
Emetofilia - pornografia envolvendo vômitos e estrangulamentos. Muitas vezes, a mulher lambe o vômito do pênis ou do chão.
Preggo - a pornografia apresenta grávidas sendo penetradas e podem incluir lactação erótica como fetiche.
Saliva - a pornografia envolve a salivação e a saliva, onde a mulher é cuspida ou o ator cospe na boca da mulher.
"Crying" que apresenta mulheres chorando.
Swirling - com atores que penetram mulheres, mantendo suas cabeças dentro de vasos santitários.
A pornografia de Bukkake envolve um intérprete, geralmente feminino, sobre o qual vários homens ejaculam, geralmente no rosto.
Felching - envolve beber (através de sucção / canudo) recentemente ejaculado o sêmen da vagina ou do ânus.
Gokkun - é um termo japonês para a atividade sexual em que uma mulher consome o sêmen de um ou mais homens, geralmente em algum tipo de recipiente. Os filmes pornográficos com cenas gokkun tiveram até 200 homens participantes.
Bestiality ou Zoofilia - Contato sexual ou relações sexuais entre uma pessoa e um animal.
A indústria do sexo, seja pornografia, streap tease ou prostituição,abusa e destrói jovens mulheres de tal forma que não se vêem mais como seres humanos.
Elas são robôs sexuais, prostitutas, putas, buracos de carne e objetos sexuais, que chegaram a esses mercados por múltiplos motivos; Tipicamente, elas entram na indústria por conseqüências das inevitáveis ​​tragédias de vida e de traumas vividos.
Assim como a prostituição, a indústria pornográfica (pornografia é prostituição filmada) está cheia de homens predadores mais velhos que aliciam muitas mulheres jovens de maneiras diferentes, como a coerção por namorados cafetões, dependentes de drogas ou apenas desejam dinheiro. Alguns desses cafetões também se tornam pornográficos. Às vezes, essas mulheres jovens são traficadas ou são extremamente vulneráveis. Muitos delas são fugitivas, escapando de casas disfuncionais onde sofreram abuso sexual infantil e / ou estupro. Eles geralmente são dependentes de drogas ou álcool. Essas vítimas possuem "Transtorno de Estresse Pós Traumático - TEPT" complexo, que é um padrão de comportamentos em que a vítima continua a se abusar, a fim de afastar os sintomas do TEPT, que são muito mais dolorosos e traumáticos do que o abuso real, onde a vítima desliga todas as emoções e sentimentos. Portanto, este mecanismo de segurança geralmente se manifesta em comportamentos sexuais de alto risco, que muitas vezes se tornam o pré-requisito para a promiscuidade, a prostituição e o desempenho na pornografia. Em que há uma continuação de abuso, auto-aversão, auto-dano, auto-degradação sexual, dissociação e uma reconstituição do próprio abuso.
Violence Against Women 16(10):1065-85 · October 2010 https://www.researchgate.net/…/47566223_Aggression_and_Sexu…
Mais textos sobre pornografia aqui:https://goo.gl/rhb3Sr, aqui https://goo.gl/ftl4ND e  aqui https://goo.gl/IJdx5u)


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sábado, 8 de abril de 2017





Assata Shakur ex Pantera Negra e o Comunismo



“Meu nome é Assata ("ela que luta") Olugbala ("para o povo") Shakur ("o agradecido"), e eu sou uma “escrava” do século 20. Por causa da perseguição do governo, não tive outra escolha senão fugir da repressão política, do racismo e da violência que dominam a política do governo dos EUA em relação às pessoas pretas. Eu sou uma ex-prisioneira política e vivo no exílio em Cuba desde 1979. Eu fui uma ativista política  a maior parte da minha vida e, embora o governo americano tenha feito tudo o que está ao seu alcance para me criminalizar, eu não sou uma criminosa. Nunca fui. Na década de 1960, participei de várias lutas: os movimento de libertação negra, dos direitos estudantis e contra a guerra no Vietnã. Eu entrei para o Partido Partido das Panteras Negras e em 1969. O Partido das Panteras Negras se tornou a principal organização alvo do programa COINTEL do FBI por ter exigido a libertação total dos negros, J. Edgar Hoover chamou-a de "maior ameaça à segurança interna do país" e jurou destruí-la e seus líderes e ativistas.”
Por Assata Shakur  

Em 2 de maio de 1973, a ativista das Panteras Negras, Assata Olugbala Shakur , também conhecida como Joanne Deborah Chesimard, foi agredida pela Polícia do Estado de Nova Jersey, e depois acusada de assassinato de um policial. Assata passou seis anos e meio na prisão sob circunstâncias brutais antes de escapar da ala de segurança máxima do Clinton Correctional Facility for Women em New Jersey em 1979 e se mudar para Cuba.
Após 40 anos, em 2013, o FBI declarou Assata Shakur terrorista, deturpando assim o significado de “terrorista”, pois Assata jamais atacou civis, usando um crime nitidamente montado. Houve forte apelo pelo “perdão” a Assata, por vários ativistas e inclusive da ex Pantera Negra Angela Davis, feminista ativista no país, mas sem sucesso.

Sobre o comunismo, Assata escreveu em sua autobiografia

“Eu não era contra o comunismo, mas também não posso dizer que apoiava. Inicialmente, eu achava suspeito, como se fosse tipo uma invenção de homem branco, até que eu li trabalhos de revolucionários Africanos e estudei os movimentos de libertação Africanos. Os revolucionários na África entenderam que a questão da libertação Africana não era só uma questão de raça, que mesmo que eles conseguissem se livrar dos colonialistas brancos, se eles próprios não se livrassem da estrutura econômica capitalista, os colonialistas brancos simplesmente seriam substituídos por neocolonialistas Pretos. Não houve um movimento de libertação na África que não estivesse lutando pelo socialismo. Na verdade, não há um movimento de libertação se quer no mundo que tenha lutado pelo capitalismo. A coisa toda se resume a uma simples questão: qualquer coisa que tenha algum tipo de valor é feito, extraído, plantado, produzido e processado pelos trabalhadores. Então, por que os trabalhadores não deveriam coletivamente possuir essa riqueza? Por que os trabalhadores não deveriam possuir e controlar essa riqueza? Capitalismo significa que os empresários ricos possuem a riqueza, enquanto que o socialismo significa que o povo que fez aquela riqueza a possui.


Eu entrei em acaloradas discussões com irmãos e irmãs que falavam que a opressão do povo Preto seria apenas uma questão de raça. É por isso que você tem pretos apoiando Nixon ou Reagan ou outros conservadores. Pessoas pretas com dinheiro sempre tenderam a apoiar candidatos os quais eles acreditavam que iriam proteger seus interesses financeiros. Na minha opinião, não precisou de muita inteligência para perceberem que o povo preto é oprimido por causa da classe, assim como da raça, porque somos pobres e pretos. Sempre me incomodava quando alguém falava sobre uma pessoa preta subindo a escada do sucesso. Sempre que você fala sobre uma escada, você está falando sobre o topo e o fundo, uma classe superior e uma classe inferior, uma classe rica e uma classe pobre.


Se você tiver um sistema com um topo e um fundo, o povo preto sempre vai terminar na parte de baixo porque somos mais fáceis de sermos discriminados. Por isso que eu nunca consegui enxergar a luta por dentro do sistema. Tanto o partido dos democratas quanto o partido republicano são controlados por milionários. Eles estão interessados em se manter no poder, enquanto que eu estava interessada em tirar o poder deles. Eles estavam interessados em apoiar ditaduras fascistas na América do Sul e Central, enquanto que eu queria vê-las derrubadas. Eles estavam interessados em apoiar regimes fascistas e racistas na África, enquanto que eu queria vê-los derrubados. Eles estavam interessados em derrotar os Vietcongues e eu estava interessada em vê-los ganhar sua libertação. Um cartaz do massacre de My Lai, mostrando mulheres e crianças amontoadas em uma pilha com seus corpos perfurados por balas, pendurado na minha parede era um lembrete diário da brutalidade que o capitalismo causava no mundo.”

Hoje Assata Shakur permanece exilada em Cuba.

Texto escrito com a colaboração de Leandro Augusto




#Khaleesi



quinta-feira, 23 de março de 2017


A terceirização atinge diretamente as mulheres brasileiras


   O Projeto de Lei (PL) 4.302/1998 que libera a terceirização para todas as atividades das empresas, passou tranquilamente nessa quarta-feira pela câmara dos deputados. Implicando que agora todos os setores de uma empresa podem ser terceirizados, a empresa inicial contrata funcionários de uma outra empresa prestadora de serviços.

O que isso significa?

   De forma prática e a grosso modo, significa não ter garantias trabalhistas, não ter nenhuma segurança, não saber a quem recorrer caso precise dentro da empresa e não ter como cobrar o empregador; a jogada para esse golpe foi bem planejada, o sucateamento de empresas brasileiras como Petrobrás e as grandes construtoras que tiveram obras paralisadas com a operação Lava-jato, geraram uma reação em cadeia em todo o país, o que causou um grande número de desempregos, hoje há cerca de 12 milhões de desempregados no Brasil, o trabalho está escasso e o “exército de reserva” é numeroso, o que faz com que o trabalhador se sujeite a qualquer salário e qualquer tipo de contrato, sem muitas reinvindicações, no fim das contas é um retrocesso para o Brasil e não irá gerar crescimento econômico para o trabalhador, só para a burguesia mesmo, a quem serve nossos políticos.


Porque o feminismo está relacionado a esse processo?

   O Brasil tem cerca de 6 milhões de mulheres a mais do que homens, somos maioria trabalhando, já ocupamos os piores cargos mesmo com maior escolaridade, nossa remuneração é menor e somos maioria em subempregos e no trabalho informal. À cada 10 trabalhadoras que sofrem assédio sexual, 8 são terceirizadas. Acredite, quando Simone de Beauvoir diz: “Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. ”

   A pauta contra a Terceirização, bem como da Reforma da Previdência, nos atinge diretamente. A burguesia não está considerando que exercemos jornada dupla e que por isso nossa força de trabalho será ainda mais desvalorizada. Além do fato de que muitas mulheres ainda dependem da renda do companheiro, o que se torna um golpe duplo, pois as mulheres são atingidas novamente.

   Portanto, companheiras, o momento de nos unirmos e lutarmos contra o golpe duro que a classe trabalhadora está sofrendo é esse, não podemos nos calar diante dessa escravidão moderna. 

Não a terceirização!

Não a reforma da previdência!

sábado, 11 de março de 2017



        

        O Radfem Analisado pelo Marxismo







Bom, esse é um texto introdutório sobre algumas perspectivas em relação ao Feminismo Radical, alguns tópicos aqui vão ser posteriormente estudados e especificados, para uma explicação mais acadêmica, com referências e fontes. Espero que gostem! :)


Sobre o Gênero



É preciso entender, primeiramente, que o gênero, mais necessariamente, a construção do gênero por divisão sexual do trabalho, não começou no patriarcado e sim antes dele. Em algumas sociedades, principalmente as de Caça e Coleta, a divisão do trabalho consistia em deixar os homens com a caça e as mulheres com a coleta. Para Saffioti, isso não consistia em desvalorizar o papel da mulher, pelo contrário, a autora diz o seguinte: “Enquanto a coleta é certa, acontecendo cotidianamente, a caça é incerta. Um grupo de homens pode voltar da caçada com um animal de grande ou médio porte, provendo as necessidades de seu grupo, como pode voltar sem nada. Logo, a atividade dos homens, realizada uma ou duas vezes por semana, não é confiável em termos de produto. Já a das mulheres lhes permite voltar a sua comunidade sempre com algumas raízes, folhas e frutos. A rigor, então, a sobrevivência da humanidade, felizmente variando no tempo e no espaço, com esta divisão sexual do trabalho (não se pode afirmar que todos os povos hajam passado pelo estágio da caça e coleta), foi assegurada pelo trabalho das mulheres.” Com isso, pode-se afirmar que o gênero nem sempre serviu a interesses patriarcais, apenas depois da construção do Patriarcado. Logo, o Patriarcado é o grande problema e o principal alvo. 
A maior prova disso é que a divisão sexual do trabalho está sendo suprimida em alguns países, mas mesmo assim o machismo ainda é muito presente. Se a divisão em si não é o problema, e sim a visão de que um sexo é inferior ao outro, então por que abolir as características sociais que circundam o sexo feminino acabaria com o problema? Se o problema central está na visão do sexo feminino em si, as características sociais que envolvem esse sexo biológico são secundárias e podem ser mudadas e reinventadas. Resumindo: você tira o gênero, mas não tira o Patriarcado, então ele vai se reinventar e achar outras maneiras para te oprimir. Poderia comparar, nesse caso, com o Capitalismo. Botamos direitos para os proletários, aumentamos a qualidade de vida, mas a exploração continua ali, reinventada e mascarada.


Sobre o Feminismo Radical versus o Marxismo



Para as Feministas Radicais, o gênero foi construído pelo patriarcado para estabelecer relações opressivas entre homens e mulheres, e por isso, gênero se constitui como uma classe, e essa vertente se denomina oriunda do marxismo / materialismo histórico-dialético, o que é falso. A diferença central é que na perspectiva radical a contradição central da sociedade é entre os gêneros, homem e mulher, na busca pela superação do "patriarcado". Ou seja, o grande inimigo do progresso da humanidade seria o homem e o agente emancipador, a mulher. O centro dessa perspectiva radical é a ideia de que a luta da mulher contra o homem deve ser o motor da libertação social. É meio evidente como isso contraria diretamente o marxismo e qualquer tentativa de fusão é como misturar água e óleo. Pois o marxismo parte, primeiro, não de uma categoria quase supra-histórica, como a ideia de patriarcado, como fator determinante da configuração social, mas sim o de modo de produção (não que um seja contraditório ao outro - não é - mas me parece ser questão de grau de importância e determinação de cada um). E, segundo, o conflito social que é o motor da história para o marxismo é a luta entre as classes. Como está escrito no Manifesto Comunista: "plebeus contra patrícios; escravos contra senhores; servos contra barões; proletários contra burgueses". Para o marxismo, a luta da classe trabalhadora contra a burguesia é a contradição capaz de alavancar a libertação social. O fundamento da concepção marxista de classe é a relação com a propriedade e a posição no processo produtivo. Uma mulher ou um homem pode ter mais ou menos propriedade. Apesar do machismo facilitar para homens e dificultar para mulheres esse acesso, não existe nada que, em si mesmo, coloque a mulher ou o homem numa posição distinta diante da propriedade. E a teoria de classes sociais no marxismo não possui função meramente contemplativa; em busca de um "ser ou não ser" classe. Mas está subsidiada ao entendimento da história de forma a fornecer estimativas e potencialidades que permitam a intervenção no processo histórico.

                                            

Sobre Transexualidade e Socialização



Primeiro é necessário desmistificar a ideia de que transexualidade está associada a Teoria Queer ou algum teórico específico. A transexualidade não foi inventada por nenhuma teoria, ela é um fenômeno social que está presente em todas as classes sociais e que pode ser estudado por qualquer tipo de teoria, por qualquer vertente. É um fenômeno reconhecido pela ciência, embora os estudos ainda sejam escassos para nos dar certeza de sua origem. O que é de conhecimento geral hoje é que as pessoas trans se ajustam culturalmente ao gênero por que é a única forma de aceitação social presente no momento e que elas mudam seu sexo para se adequar a isso. Os dados que temos é que existe mais mulheres transexuais do que homens transexuais, e que é uma proporção de 1% a 2% no mundo inteiro. Embora seja muito pouco, é um número significativo.
Ok, o que isso tudo significa? É que, embora seja algo relativamente novo de ser estudado e seja um pequeno número, pessoas transexuais são alvo da visão patriarcal que nossa sociedade tem, e os dados estatísticos nos provam isso. Essa população, principalmente as mulheres trans, estão fadadas a prostituição e a uma expectativa de vida baixíssima, mais baixa do que as consideradas mulheres cis. Tudo isso em um mesmo país. Uma visão verdadeiramente materialista da transexualidade é considerar que, independentemente da visão biológica de que essas pessoas naturalmente pertencem a um outro sexo quando nasceram, elas mudam seu sexo e procuram se adequar a ele em termos sociais e de gênero, e que considerar que essas pessoas são sim mulheres e merecem direitos de nada atrapalha o entendimento de que o gênero moldado pelo Patriarcado é sim opressivo, pelo contrário, é confirmar ainda mais isso, visto que essas pessoas, estruturalmente, estão em uma condição de opressão preocupante. Falar nisso não é falar em “privilégio cis”, até porque a palavra “privilégio” é mal utilizada e não cabe aos estudos sociológicos sérios, falar nisso é apenas conhecer que o Patriarcado é uma hidra de várias cabeças e age de diversas maneiras complexas, não só através do gênero, mas da transexualidade e da homossexualidade também. 
Mas e a socialização? Bom, a socialização existe, mas não é uma caixinha bônus que você recebe ao nascer homem, ou ao nascer com a pele branca, é algo que as relações vão moldando e dinamizando, é uma relação dialética. Resumindo: você nascer com duas ou três caixinhas bônus (homem, hetero e branco) não te faz ter vantagens muito maiores se você nasce em uma classe extremamente pobre, então você mal vai usufruir da sua caixinha, ou nem vai, pois vai morrer antes de ter qualquer oportunidade melhor. No caso das mulheres trans, é a mesma coisa. Elas de fato nasceram com um pênis, porém suas relações com a sociedade, família e demais dinâmicas não dão qualquer vantagem, pelo contrário, a bota em um grupo minoritário mais marginalizado ainda.


Sobre o lugar das Transexuais na militância



Com a popularização da militância nas redes sociais, foram criando esses tais “espaços exclusivos” e os tais “vales das minorias” que não passam de lugares metafóricos e sem sentido. 
Uma questão trazida pelas Feministas Radicais é que as mulheres trans precisam de outro espaço para discutir suas pautas, o que não faz nenhum sentido prático. Se eu quero criar uma pauta para discussão e quero apenas pessoas contempladas por aquelas pautas, isso vai envolver muito mais que uma questão apenas de cis e trans. Por exemplo: se eu quero falar de Violência Obstétrica para pessoas grávidas, eu procurarei apenas mulheres grávidas, isso quer dizer que mesmo as mulheres que nasceram com o sexo feminino e são férteis estarão de fora da minha discussão se elas não estiverem grávidas. Se eu quero discutir estupro apenas com pessoas que foram estupradas, isso também vai incluir as mulheres trans. Enfim, existe uma infinidade de estudos e pautas que contemplam ou não pessoas por um mínimo detalhe. E esses espaços exclusivos e vales não precisam se transformar em vertente para se confirmarem como tal, eles já existem e estão dados nas suas relações, seja virtualmente ou na vida real, em universidades etc. 
Isso é algo tão simples que nem deveria ser um tópico nesse texto, pois o que se vê em relação as principais representantes do Feminismo Radical é dizer que as mulheres transexuais são “homens de saia” e que não fazem parte do feminismo. Se você for pegar o sentido prático desses dizeres, eles se transformam em pó, pois de nada ajudam a entender a transexualidade de uma forma social e de nada colaboram para a discussão de pautas importantes. Não existe diferença entre dizer que mulheres transexuais fazem parte do feminismo ou não fazem, pois de qualquer forma essas mulheres precisam se inteirar das discussões sobre o Patriarcado e precisam ter suas demandas atendidas. Não me parece nada materialista ficar dando voltas em torno de um conceito ou expulsando pessoas desse conceito apenas para se ter espaço em um lugar simplesmente metafórico, que é o Feminismo, pois ele não é um país, nem um vale e nem um lugar especial, ele é um movimento que está dado nas nossas relações com nossas camaradas, nas discussões, no Congresso, em palestras, enfim.