domingo, 25 de junho de 2017

Cosmético e moda no comércio da beleza - por Evelyn Reed




Créditos na imagem 

A pauta contra a imposição dos padrões de beleza e a indústria capitalista da moda que tortura 99% das mulheres sempre é mencionada nos debates feministas, apesar da indústria ter encontrado nicho na "Representatividade", a sociedade não mudou, a protagonista da novela continua sendo a mocinha branca, magra, alta e de cabelão liso. Evelyn Reed, no seu livro Sexo contra sexo ou classe contra classe, faz uma análise pertinente e histórica sobre essa indústria. 
Confira:

Cosmético e moda no comércio da beleza

As distinções de classe entre as mulheres transcendem sua identidade como sexo. Isto é certo principalmente na sociedade capitalista moderna, em que a polarização das forças sociais é mais forte.
Historicamente, a luta entre os sexos fez parte do movimento feminista burguês do século passado. Tratava-se de um movimento reformista, levado a cabo dentro do sistema, e não contra o mesmo. Foi, sem dúvida, uma luta progressiva, uma vez que as mulheres se rebelaram contra o domínio quase total do homem. Com o movimento feminista, as mulheres obtiveram um número considerável de reformas. Mas aquele tipo de movimento feminista já fez seu trabalho, alcançou seus objetivos limitados, e os problemas que se nos apresentam devem ser situados no contexto da luta de classes.
A “questão feminina” pode ser resolvida somente com a aliança dos homens e das mulheres trabalhadoras, contra os homens e as mulheres que detém o poder. Isto significa que os interesses comuns dos trabalhadores, como classe, são superiores aos das mulheres como sexo.
As mulheres que pertencem à classe dominante têm exatamente o mesmo interesse na conservação da sociedade capitalista que os seus maridos. As feministas burguesas lutaram, entre outras coisas, pelo direito das mulheres terem propriedades registradas em seu nome, e obtiveram este direito. Hoje, as mulheres plutocratas possuem fabulosas riquezas registradas em seu nome. Sobre temas políticos e sociais fundamentais, não simpatizaram nem se uniram com as mulheres trabalhadoras, cujas necessidades podem ser satisfeitas somente com a desaparição deste sistema. Por isto, a emancipação das mulheres trabalhadoras não será obtida através de uma aliança com as mulheres da classe inimiga, mas sim ao contrário, com uma luta contra elas, como parte de uma luta total contra o capitalismo.
A intenção de identificar os interesses das mulheres como sexo toma uma de suas formas mais insidiosas no campo da beleza feminina.
Surgiu o mito de que, já que todas as mulheres querem ser belas, tem todas o mesmo interesse pelos cosméticos, pela moda, considerados hoje indispensáveis para a beleza. Para sustentar esse mito, diz-se que o desejo de beleza se deu em todas as épocas da história, e com todas as mulheres. Os traficantes do campo da moda levantavam como testemunho disso o fato de que, inclusive na sociedade primitiva, as mulheres pintavam e decoravam seu corpo. Para destruir esta crença, vejamos rapidamente a história dos cosméticos da moda.
Na sociedade primitiva, em que não existia a disputa sexual, não eram necessários os cosméticos e a moda como subsídios artificiais da beleza. Os corpos e os rostos, tanto dos homens, como das mulheres, eram pintados e “decorados”, mas não por razões estéticas. Estes costumes nasceram de distintas necessidades relacionadas com a vida primitiva e com o trabalho.
Naquela época, qualquer indivíduo que pertencesse a um grupo familiar, necessitava estar “marcado” como tal, segundo o sexo e a idade. Estas “marcas” compreendiam não só ornamentos, anéis, braceletes, saias curtas etc., mas também gravações, tatuagens, e outros tipos de decoração no corpo, que indicavam não só o sexo do indivíduo, mas também a idade e o trabalho dos membros da comunidade, à medida que passavam da infância à idade madura e à velhice. Mais que decorações, estes sinais podem ser considerados como uma forma primitiva de evidenciar a história da vida de cada indivíduo, como atualmente nós fazemos com os álbuns de família. Uma vez que a sociedade primitiva era comunitária, estes sinais marcavam também uma completa igualdade social.
Depois veio a sociedade de classes. As marcas, símbolos de igualdade social, também foram transformadas em seu oposto. Converteram-se em modelos e decorações, símbolos de desigualdade social, expressão da divisão da sociedade entre ricos e pobres, entre governantes e governados. Os cosméticos e a moda passaram a ser prerrogativas da aristocracia.
Um exemplo concreto pode ser encontrado na Corte francesa, antes da revolução. Entre os reis, os príncipes e a aristocracia latifundiária, tanto os homens como as mulheres vestiam-se segundo o ditado pela moda. Eram “dândis” com as caras pintadas, os cabelos empoados, cintos coloridos, ornamentos de ouro e tudo o mais. Os dois sexos eram “belos” segundo os modelos em voga. Mas ambos os sexos da classe dominante se distinguiam, particularmente por seus cosméticos e suas roupas, dos camponeses pobres, que suavam por eles na terra e que, certamente, não eram belos, segundo os mesmos modelos. A moda naquele período foi símbolo de distinção de classe.
Mais tarde, quando os costumes burgueses substituíram os feudais por diversas razões históricas, os homens deixaram o campo da moda principalmente para as mulheres. Os homens de negócios afirmavam sua posição social com a exibição de esposas enfeitadas, e abandonaram as calças douradas e as faixas coloridas. Entre as mulheres, sem dúvida, a moda ainda distinguia a Judy O'Grady(1) da mulher de um coronel.
Com o desenvolvimento do capitalismo, produziu-se uma enorme expansão da produção, e com ela a necessidade de um mercado de massas. Já que as mulheres constituíam a metade da população, os capitalistas começaram a explorar o campo da beleza feminina. Assim, o capítulo da moda saiu do estreito marco dos ricos e se impôs a toda a população feminina.
Para corresponder às exigências deste setor industrial, as distinções de classe foram suavizadas e escondidas sob a identidade do sexo. Os agentes de publicidade difundiram a propaganda: todas as mulheres querem ser belas, portanto todas as mulheres têm interesse por cosméticos e moda. A moda se identificou com a beleza, venderam estes acessíveis produtos de beleza na base de sua “necessidade” e “desejo” comum a todas as mulheres.
Atualmente, o campo da beleza alimenta milhares de indústrias: cosméticos, vestidos, perucas, produtos para emagrecer, jóias verdadeiras e falsas etc. Viu-se que a beleza era uma fórmula muito flexível. Tudo o que um empresário deveria fazer para ficar rico era descobrir um novo produto e convencer as mulheres de que “tinham necessidade” dele e que o “desejavam” (ver qualquer das campanhas de publicidade da Revlon).
Para manter e aumentar esta pechincha, faltava propagandear outros mitos, em apoio aos capitalistas. São eles:
1.                Há séculos que as mulheres competem umas com as outras para atrair sexualmente os homens. Isto é, virtualmente, uma lei biológica, da qual nada escapa, e uma vez que sempre existiu e sempre existirá, as mulheres se submetem ao seu destino, e estão em permanente competição umas com as outras, no mercado capitalista do sexo.
2.                Na sociedade moderna, a beleza natural das mulheres, na realidade não conta. Inclusive, insinua-se que a natureza abandonou as mulheres no que diz respeito à sua beleza. Para recuperar a sua falta de atrativos e suas deformações, devem recorrer a ajudas artificiais que os gentis industriais colocam à sua disposição. Examinemos esta propaganda.
(1)          Referência a um poema de Rudyard Kipling


link para o livro completo https://www.dropbox.com/s/55tm7xc6ew54tia/Sexo-Contra-Sexo-ou-Classe-Contra-Classe%20%281%29.pdf?dl=0




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