domingo, 29 de janeiro de 2017




Dora B. Montefiore – Uma feminista socialista quase esquecida

   Numa fase inicial, sua história de vida pareceu mais um romance ao estilo de Barbara Cartland. No fim de 1870 uma típica e convencional senhorita inglesa, Dorothy Fuller, nascida numa mansão vitoriana em Surrey e educada ali por governantas e tutores deixou a Inlgaterra para ir à Austrália para visitar partente e ali encontrou e se apaixonou por um jovem, belo e rico australiano, George Borrow Montefiore. Depois de uma breve viagem de retorno, ela voltou à Austrália para ficar.

   Eles se casaram e viveram felizes, não “para sempre” -  não há tal coisa como para sempre, ou finais felizes – mas ao menos por uma década. Então o marido morreu e ela foi deixada, no fim dos seus 30 anos, uma viúva com dois filhos abaixo dos 10 anos de idade. Ainda assim, estava segura, pois herdara tudo do marido.

   Ainda assim, a leitura formal do testamento de seu marido pelo advogado foi o começo de uma mudança radical na vida emocional e intelectual desta viúva.
Dizendo o quão rica era ela, o advogado sem pensar, disse: - como seu marido não deixou nenhuma diretiva adicional, você será a única guardiã de seus filhos. – ao que ela respondeu – como assim? – ela nunca tinha pensado sobre isso – você está falando dos meus filhos, as crianças a quem eu dei a luz! Deixar outras ordens? Essa é boa!
   O advogado insistiu no ponto. – Ele poderia ter sim deixado outras ordens, por exemplo: vocês são de religiões diferentes (o marido era judeu); ele poderia ter deixado as crianças na custódia de alguém de sua própria religião.
   O homem morto, simplesmente por colocar em seu testamento, poderia ter tirado seus filhos! Esse era seu direito, o direito do “homem”. – Até onde implica a lei, há apenas um pai, disse o advogado.
A partir daquele momento a viúva se tornou, ela mesma, em uma guerreira pelos direitos das mulheres. Ela seria uma das fundadoras do Movimento das Mulheres Sufragistas em New South Wales.
   Uma vez que começou a olhar através do mundo em que vivia, ao lugar a que as mulheres pertenciam e à forma que geralmente era governado, ela rapidamente se tornou uma socialista radical, também. A guerreira pelos direitos das mulheres também se tornou uma guerreira contra o capitalismo e suas injustiças. Ela passaria o resto de sua longa vida em campanha pela igualdade para a mulher e pela emancipação da classe trabalhadora do sistema salarial escravagista do capitalismo.
   Essa foi Dora B. Montefiore, que, com 69 anos, 3 décadas como militante socialista e feminista foi eleita diretora provisória do Partido Comunista da Grã Bretanha em sua conferência de fundação em 1920. O Marxismo, inspirado pela revolução russa, fazia novo começo naquele país.
   Agora, quase esquecida, Montefiore, depois de Sylvia Pankhurst era a mais proeminente inglesa comunista e que foi assim por uma década e meia, antes de Sylvia. Dora Montefiore não merece ser esquecida.
   Ela foi ativa muitas vezes na Austrália, onde em 1911, editou o jornal em Sydney: O Reporte Socialista Internacional da Australasia – África do Sul, Bretanha e Irlanda. Ela escreveu para e ajudou a organizar o movimento marxista da Bretanha pré revolução russa (antes de 1911, a Federação Social Democrata, então Partido Social Democrata e, depois de 1911, o Partido Socialista Britânico) Ela escreveu em 1909 um importante panfleto “A posição das mulheres no Movimento Socialista, publicado pela prensa do partido social democrata.
   Ativa no movimento sufragista por muitos anos, ela foi membro no primeiro período da União Política Social Feminina (WSPU). Fundada em 1905 por Emmeline Pankhurst e suas filhas Christabel, Sylvia e Adele, O WSPU perseguiu táticas militantes. Mas seu objetivo não era ganhar o voto universal para todas as pessoas acima de uma determinada idade (muitos homens na classe trabalhadora não podiam votar), mas apenas votos para mulheres, “nas mesmas condições do voto para homens”. Na prática, isso significava ganhar os votos não para todas as mulheres, mas apenas para aquelas que tivessem a qualidade de proprietárias. Seus defensores argumentavam que assim seria estabelecida a base de direitos iguais entre homens e mulheres, enquanto seus oponentes argumentavam que o voto não seria para toda mulher, mas apenas para as “ladies”.
   Dora Montefiore foi presa em 1906 por participar emu ma manifestação sufragista no Lobby da Casa dos Comuns.
   No mesmo ano, retomando o antigo grito de guerra revolucionário “sem taxação sem representação”. Montefiore protestava contra a negação do voto parlamentar para mulheres que se negassem a pagar taxas. Ela se postou na frente de sua casa em Hammersmith e por um número de semanas impediu os oficiais de justiça de levarem seus móveis como pagamento por taxas.
Montefiore, como um membro anti-guerra – teve que ser escondida em 1918 para escapar da polícia, que perseguia e prendia socialistas anti-guerra usando o notável “Ato de Defesa do Reino”
 (...)
   Dora Montefiore foi delegada em várias conferências socialistas internacionais. Ela esteve no Congresso de Basle de 1912, representando o BSP. Ali o movimento socialista internacional aprovou o famoso “Manifesto Anti-Guerra de Basle, que se tornou uma carta morta imediatamente depois que a guerra começou em 1914. Ela não ficou impressionada por Basle – um evento que deveria ter 3 dias, mas foi diminuído para apenas um, onde resoluções foram aprovadas e selos carimbados sem qualquer discussão. Ela percebeu que a conferência não obrigava seus participantes a uma luta contra a guerra real (ela era favorável à tentativa de uma Greve Geral internacional contra a guerra).
De volta à Inglaterra ela expressou sua opinião no Daily Herald e deixou a BSP quando a líderança nacionalista britânica daquela organização veementemente discordou de sua posição. Ela voltou a se associar ao partido em 1916 depois que a minoria patriótica, liderada por HM Hyndman, o fundador do movimento marxista britânico, deixou o partido. O BSP seria, de longe, o maior contribuidor para a formação do partido Comunista, fundado em 1920/21.
   Em 1923, com 72 anos e sofrendo de bronquite asmática crônica ela foi impedida pelo governo australiano de voltar à Austrália para visitar o túmulo do filho (envenenado por gás durante a Guerra) e seus netos até que ela prometesse não se engajar em agitações políticas ou propaganda comunista enquanto estivesse lá. Uma vez na Austrália ela ignorou o contrato que fora obrigada a assinar.
Montefiore representou o Partido Comunista da Austrália em Moscow, no quinto concresso da Internacional Comunista de 1924. Ela morreu aos 82 anos, em Hastings, Inglaterra, em 1933.
                                                                                                                                                            
 #ZinaidaTchetcheneva

Tradução de artigo original encontrado em:

https://www.marxists.org/archive/montefiore/biography.htm