terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O que é luta de classes? Qual a relação com o feminismo?



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Cartaz do Congresso Internacional das Mulheres em 1963




    Desde o início da história da sociedade, existem os que exploram e os que são explorados e oprimidos. A exploração existe porque há uma minoria que detém os meios de produção, e nas relações de trabalho ela se manifesta, pois é a classe explorada quem produz, mas não retém o valor justo em troca da sua força de trabalho. Durante o colonialismo houve o período da escravidão, onde escravos tudo produziam, mas não viam qualquer retorno do seu trabalho por serem considerados como propriedades. Aí que entra a questão feminina.

   Desde que surgiu o patriarcado, cerca de cinco mil anos atrás, a mulher passou a ser considerada propriedade privada do homem, mesmo a mulher burguesa. A mulher era propriedade do pai, que por sua vez usava a filha mulher como moeda de troca, entregava em casamento para alguém e com isso, esse homem, seu marido, passava a ser seu novo proprietário.  Segundo August Bebel (socialista utópico que já levantava as questões da emancipação feminina), a mulher era escrava quando ainda nem existia escravidão, Engels faz uma analogia da exploração feminina com as questões de classe, dizendo que o antagonismo de classe pode ser observado na exploração da mulher pelo homem, os papéis de gênero foram ao longo dos anos reforçados baseados nas premissas patriarcais, mulher serva e submissa ao macho seu proprietário, a religião fez questão de reforçar esses papéis, como bem analisou Saffioti, em A mulher na sociedade de classes, sua obra prima, em acordo com Beauvoir em o Segundo Sexo.

  Em paralelo a história da mulher burguesa, existia a mulher serva, que sempre esteve ali no papel secundário, que foi primeiramente, oprimida pelo gênero e depois, pela classe. A mulher que já nasceu na classe explorada, desde o início era serva, servia a mulher burguesa e ao homem burguês, através do trabalho doméstico, na lavoura e como produto sexual, sendo obrigada a servir ao senhor quando ele bem entendia e como reprodutora de mais “mão de obra”. Enquanto a mulher burguesa lutou pelo direito a propriedade privada, não deixou de existir a relação patroa x serva, observado até hoje, inteiramente ligado as questões de raça na sociedade brasileira.
  Não é intenção desse texto, criar um antagonismo ou desconforto entre mulheres, mas esse acirramento já existe, se o gênero nos une, a classe nos separa. Primeiro é preciso entender o que é uma mulher burguesa. Quando se fala em mulher burguesa, se tem a noção rasa de que se trata de uma mulher proletária que contrata uma empregada pra lhe auxiliar enquanto ela sai pra trabalhar, da dona de uma lojinha de roupa na esquina, da cabeleireira que tem um salãozinho no bairro, esse é um conceito errado. A mulher burguesa assim como o homem burguês, é quem detém meios de produção, como grandes latifundiárias, proprietárias de banco, grandes governantes de extrema esquerda que não pensam duas vezes em dificultar a vida de mulheres e homens trabalhadores. Podemos usar Margareth Thatcher como um exemplo, uma mulher que tomou medidas de austeridade, terceirizou o trabalho no Reino Unido, flexibilizou leis trabalhistas, o que causou grande sofrimento pra toda classe trabalhadora durante o seu governo, beneficiando apenas grandes empresários que já eram milionários.
  Não tem como romper com toda a exploração de gênero sem antes romper com a exploração de classes. São questões entrelaçadas, vemos hoje o feminismo liberal ganhando espaço no capitalismo, por ser uma luta que não possui pretensão na emancipação real feminina, apenas econômica de caráter meritocrático, com a idéia de que se uma mulher consegue e a outra não, é apenas questão de livre escolha, como se o sistema capitalista permitisse que as mulheres de todas as raças e classes tivessem as mesmas oportunidades.
  Luta de classes compreende em romper com todas as desigualdades sociais, isso inclui a luta contra o racismo, lgbtfobia, machismo, sexismo, e todo tipo de opressão. Entende-se a necessidade de entralaçar as causas, não sucumbir ao apelo pós-moderno e liberal em satisfazer-se apenas com a representatividade burguesa.
  É necessário deixar claro dois pontos, a esquerda marxista precisa compreender que os movimentos de minorias no Brasil são também compostos por membros da classe trabalhadora, assim como as minorias precisam compreender que não se vence esse sistema fora da luta classista, já temos provas suficientes de que o sectarismo não deu certo. Nós, mulheres somos maioria na classe trabalhadora e não há emancipação verdadeira pra nós dentro desse sistema, se contentar com publicidade em empresa de cosméticos é ilusório.

#Khaleesi

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