Sexo contra sexo ou classe contra classe? Uma análise
marxista sobre o feminismo atual
“O chauvinismo masculino desperta grande
indignação entre as mulheres e fomenta um profundo antagonismo entre os dois
sexos. Existem duas maneiras distintas de tratar este aspecto da libertação da
mulher.
Uma é a marxista. Sabemos que as mulheres estão subjugadas e
humilhadas em uma sociedade dominada pelo homem, e também que estão plenamente
capacitadas para se organizarem ativamente contra estes males. Ao mesmo tempo,
o marxismo nos ensina que a subordinação de um sexo é parte e consequência de
uma pressão mais ampla e da exploração da massa trabalhadora por parte dos
capitalistas, detentores do poder e da propriedade. Portanto, a luta pela
liberação das mulheres é inseparável da luta pelo socialismo.
E outro ponto de vista sustenta que todas as mulheres, como sexo,
estão no mesmo barco e têm objetivos e interesses idênticos independentemente
de sua posição econômica e da classe a que pertençam. Portanto, para obter a
emancipação, todas as mulheres deveriam se unir e levar a cabo uma guerra
baseada na diferença de sexo contra os machos chauvinistas, seus inimigos
acérrimos. Esta conclusão, unilateral e distorcida, pode causar um grande dano
à causa da libertação da mulher.”
Evelyn Reed,
feminista, militante e antropóloga, escreve em “Sexo contra sexo ou classe
contra classe” sobre a análise marxista da luta feminista, mostrando as
diferenças da luta pelo viés classista, para a luta identitarista. O que Reed
quer dizer, não é negar a opressão de gênero que acomete a todas as mulheres,
inclusive as de classes mais altas, mas que a verdadeira libertação da mulher
não se dá com uma luta dos sexos, mas junto da luta de classes, que as questões
acerca da opressão de gênero, não se separam das questões de classe. Que uma
mulher proletária não tem como ignorar a opressão que sofre pelo peso da sua
classe, para se unir a mulher burguesa e esmagar aos homens da sua classe que
são igualmente explorados, muitos deles são seus cônjuges, filhos, pais. A
luta, pelo viés marxista, é estrutural, entende-se que há mais do que homens
matando mulheres, simplesmente por serem homens e mulheres, há um sistema
social vigente que corrobora para a exploração dupla da mulher, cis ou trans,
que se vê explorada por seu patrão ou patroa, mas também sofre violência de
gênero. Não é negar que homens violentam, abusam, assediam, agridem e matam
mulheres, mas que por saber que não é possível a eliminação de todos os homens
no Planeta Terra, mas sim, é possível, eliminar da nossa sociedade, o machismo,
o patriarcado, a misoginia e o feminicídio. Com a construção de uma nova
sociedade, onde homens e mulheres andem em igualdade e equidade.
É questão de analisar historicamente, que desde a Revolução
Francesa, alguns movimentos feministas eram escravagistas, muitas dessas mulheres
não queriam igualdade de gênero para todas, mas só para as brancas e ricas, mulheres
negras, servas, escravas ficavam de fora das suas pautas, semelhantemente, hoje,
vemos uma luta por esse segmento, uma falsa ideia de sororidade, passando a
noção de pacifidade, para que a proletária continue servindo a rica,
eternamente, sem questionar, pois são do mesmo gênero, e por aí, a luta não se
desenvolve, pois ela está intrinsecamente ligada às questões de classe.
“Portanto, classe contra classe deve
ser a linha mestra da luta pela libertação da humanidade em geral, e da mulher
em particular. Somente uma vitória revolucionária sobre o capitalismo, dirigida
pelos homens e mulheres trabalhadoras e apoiadas por todos os oprimidos, pode
resgatar as mulheres de seu estado de opressão e garantir-lhes uma vida melhor
numa nova sociedade. Esta afirmação teórico-política marxista foi confirmada
pela experiência de todas as revoluções vitoriosas, como as da Rússia, China,
Cuba.
Quaisquer que sejam seus limites, as melhorias que estas
revoluções garantiram na condição da mulher foram realizadas não através de uma
luta entre sexos, mas através da luta de classes.
Não importa quão radical possa parecer; a substituição da luta de
classes pela luta entre sexos, por parte das mulheres ativistas, seria um
perigoso desvio do verdadeiro caminho da liberação. Esta tática somente poderia
servir ao jogo dos piores inimigos das mulheres e da revolução social.”
Essa obra da Evelyn Reed é uma leitura obrigatória para toda
mulher marxista.
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