Dora B.
Montefiore – Uma feminista socialista quase esquecida
Numa fase
inicial, sua história de vida pareceu mais um romance ao estilo de Barbara
Cartland. No fim de 1870 uma típica e convencional senhorita inglesa, Dorothy
Fuller, nascida numa mansão vitoriana em Surrey e educada ali por governantas e
tutores deixou a Inlgaterra para ir à Austrália para visitar partente e ali
encontrou e se apaixonou por um jovem, belo e rico australiano, George Borrow
Montefiore. Depois de uma breve viagem de retorno, ela voltou à Austrália para
ficar.
Eles se
casaram e viveram felizes, não “para sempre” -
não há tal coisa como para sempre, ou finais felizes – mas ao menos por
uma década. Então o marido morreu e ela foi deixada, no fim dos seus 30 anos,
uma viúva com dois filhos abaixo dos 10 anos de idade. Ainda assim, estava
segura, pois herdara tudo do marido.
Ainda
assim, a leitura formal do testamento de seu marido pelo advogado foi o começo
de uma mudança radical na vida emocional e intelectual desta viúva.
Dizendo o
quão rica era ela, o advogado sem pensar, disse: - como seu marido não deixou
nenhuma diretiva adicional, você será a única guardiã de seus filhos. – ao que
ela respondeu – como assim? – ela nunca tinha pensado sobre isso – você está
falando dos meus filhos, as crianças a quem eu dei a luz! Deixar outras
ordens? Essa é boa!
O advogado
insistiu no ponto. – Ele poderia ter sim deixado outras ordens, por exemplo:
vocês são de religiões diferentes (o marido era judeu); ele poderia ter deixado
as crianças na custódia de alguém de sua própria religião.
O homem
morto, simplesmente por colocar em seu testamento, poderia ter tirado seus
filhos! Esse era seu direito, o direito do “homem”. – Até onde implica a lei,
há apenas um pai, disse o advogado.
A partir
daquele momento a viúva se tornou, ela mesma, em uma guerreira pelos direitos
das mulheres. Ela seria uma das fundadoras do Movimento das Mulheres
Sufragistas em New South Wales.
Uma vez que
começou a olhar através do mundo em que vivia, ao lugar a que as mulheres
pertenciam e à forma que geralmente era governado, ela rapidamente se tornou
uma socialista radical, também. A guerreira pelos direitos das mulheres também
se tornou uma guerreira contra o capitalismo e suas injustiças. Ela passaria o
resto de sua longa vida em campanha pela igualdade para a mulher e pela
emancipação da classe trabalhadora do sistema salarial escravagista do
capitalismo.
Essa foi
Dora B. Montefiore, que, com 69 anos, 3 décadas como militante socialista e feminista
foi eleita diretora provisória do Partido Comunista da Grã Bretanha em sua
conferência de fundação em 1920. O Marxismo, inspirado pela revolução russa,
fazia novo começo naquele país.
Agora,
quase esquecida, Montefiore, depois de Sylvia Pankhurst era a mais proeminente
inglesa comunista e que foi assim por uma década e meia, antes de Sylvia. Dora
Montefiore não merece ser esquecida.
Ela foi
ativa muitas vezes na Austrália, onde em 1911, editou o jornal em Sydney: O
Reporte Socialista Internacional da Australasia – África do Sul, Bretanha e
Irlanda. Ela escreveu para e ajudou a organizar o movimento marxista da Bretanha
pré revolução russa (antes de 1911, a Federação Social Democrata, então Partido
Social Democrata e, depois de 1911, o Partido Socialista Britânico) Ela
escreveu em 1909 um importante panfleto “A posição das mulheres no Movimento
Socialista, publicado pela prensa do partido social democrata.
Ativa no
movimento sufragista por muitos anos, ela foi membro no primeiro período da
União Política Social Feminina (WSPU). Fundada em 1905 por Emmeline Pankhurst e
suas filhas Christabel, Sylvia e Adele, O WSPU perseguiu táticas militantes.
Mas seu objetivo não era ganhar o voto universal para todas as pessoas acima de
uma determinada idade (muitos homens na classe trabalhadora não podiam votar),
mas apenas votos para mulheres, “nas mesmas condições do voto para homens”. Na
prática, isso significava ganhar os votos não para todas as mulheres, mas
apenas para aquelas que tivessem a qualidade de proprietárias. Seus defensores
argumentavam que assim seria estabelecida a base de direitos iguais entre
homens e mulheres, enquanto seus oponentes argumentavam que o voto não seria
para toda mulher, mas apenas para as “ladies”.
Dora
Montefiore foi presa em 1906 por participar emu ma manifestação sufragista no
Lobby da Casa dos Comuns.
No mesmo
ano, retomando o antigo grito de guerra revolucionário “sem taxação sem
representação”. Montefiore protestava contra a negação do voto parlamentar para
mulheres que se negassem a pagar taxas. Ela se postou na frente de sua casa em
Hammersmith e por um número de semanas impediu os oficiais de justiça de
levarem seus móveis como pagamento por taxas.
Montefiore,
como um membro anti-guerra – teve que ser escondida em 1918 para escapar da
polícia, que perseguia e prendia socialistas anti-guerra usando o notável “Ato
de Defesa do Reino”
(...)
Dora
Montefiore foi delegada em várias conferências socialistas internacionais. Ela
esteve no Congresso de Basle de 1912, representando o BSP. Ali o movimento
socialista internacional aprovou o famoso “Manifesto Anti-Guerra de Basle, que
se tornou uma carta morta imediatamente depois que a guerra começou em 1914.
Ela não ficou impressionada por Basle – um evento que deveria ter 3 dias, mas
foi diminuído para apenas um, onde resoluções foram aprovadas e selos carimbados
sem qualquer discussão. Ela percebeu que a conferência não obrigava seus
participantes a uma luta contra a guerra real (ela era favorável à tentativa de
uma Greve Geral internacional contra a guerra).
De volta à Inglaterra
ela expressou sua opinião no Daily Herald e deixou a BSP quando a líderança
nacionalista britânica daquela organização veementemente discordou de sua
posição. Ela voltou a se associar ao partido em 1916 depois que a minoria
patriótica, liderada por HM Hyndman, o fundador do movimento marxista
britânico, deixou o partido. O BSP seria, de longe, o maior contribuidor para a
formação do partido Comunista, fundado em 1920/21.
Em 1923,
com 72 anos e sofrendo de bronquite asmática crônica ela foi impedida pelo
governo australiano de voltar à Austrália para visitar o túmulo do filho (envenenado
por gás durante a Guerra) e seus netos até que ela prometesse não se engajar em
agitações políticas ou propaganda comunista enquanto estivesse lá. Uma vez na Austrália
ela ignorou o contrato que fora obrigada a assinar.
Montefiore
representou o Partido Comunista da Austrália em Moscow, no quinto concresso da
Internacional Comunista de 1924. Ela morreu aos 82 anos, em Hastings,
Inglaterra, em 1933.